Em miúda havia uns quantos jogos que eu simplesmente adorava.
Na primária lembro-me de saltar à Macaca, ao Eixo, de brincar à Linda Falua, ao Macaquinho do Chinês, ao Lencinho da Botica. Ainda me lembro das cantiguinhas que entoávamos nestes três últimos!
Lembro-me daqueles jogos duas-a-duas com palmas e toques de mãos (sem ser o da
Sardinha) e lembro-me de
Saltar à corda.
O quanto eu saltei à corda! Lembro-me até de, já no 4º ano, atarmos duas longas cordas, ao fim da tarde, no final das aulas e fazermos longas maratonas de uns dez ou mais miúdos a saltar (rapazes e raparigas). Ou até de jogarmos com duas cordas a girar em direcções contrárias!
No 4º ano já eramos meninos grandes e lembro-me de jogar à Barra do Lenço. Quando havia "Fogo!" era uma bela barbúrdia.
Também me lembro de jogar ao Mata e ao Elástico. Este dois duraram mais tempo e 'entraram' pelo 2º ciclo adentro enquanto os rapazes, cuja companhia nos era perfeitamente dispensável, 'perdiam' o seu tempo a jogar futebol ou a engalfinharem-se no Jogo ao Alho...
O elástico foi um entre tantos dos jogos que desapareceram nos dias de hoje. É um dos que tenho tentato 'reavivar'. No ano passado, a minha M. já era grandinha suficiente para conseguir coordenar os saltos, as pisadelas e as enroladelas e eu
arranjei um elástico! O que a Senhora da Retrosaria se riu quando lhe expliquei para que queria um elástico preto tão comprido! Também ela, ainda mais velha que eu, se lembrava desse jogo. Começávamos no tornozelo e íamos subindo: atrás dos joelhos, debaixo do rabo, na cintura, debaixo dos braços, pescoço e braços esticados, 'lá em cima'. Primeiro com uma só perna, depois com duas. Pernas fechadas, pernas abertas... Chegar ao topo exigia muita ginástica! E as horas que perdíamos naquilo!
Este ano vamos dar-lhe mais uso. Ela e a amiguinha com quem habitualmente nos juntamos já estão maiorzinhas e, quando não há companhia recorre-se, tal como eu já fazia, às pernas de uma cadeira.
Como tenho um irmão rapaz eu também jogava a outros dois jogos que lhes estavam mais ou menos reservados. Com ele jogava ao Berlinde, com 3 covas (onde quer que houvesse terra ou areia) e fazíamos pistas na praia, com rampas e curvas, para jogarmos à Carica.
Na praia também não dispensávamos o Jogo do Prego. Alguém se lembra deste? (também havia quem lhe chamasse o Mundo ou a Conquista do Mundo, não me lembro bem)
O meu pai arranjava-nos um Sr. Prego! Um cavilhão com, à vontade, uns 20cm de altura, e nós desenhávamos um círcula na areia e lá fazíamos uns malabarismos especiais de modo a que o prego desse umas certas voltas mas que caísse sempre com a ponta enterrada... Íamos juntando os pontos e conquistávamos terreno. Esse e as
Bolas eram os jogos da praia e dos picnics no campo.
Lembrei-me disto tudo agora porque há um fim de semana atrás, em casa de uns amigos, depois de desembrulhar uma prenda que tinha um cordel, passei o serão a jogar ao Pé de Galo, enrolando nas mãos, fazendo figuras e passando de uns para os outros até conseguirmos chegar àquela figura em que ninguém sabe como prosseguir.
A conversar sobre estes jogos e brincadeiras (como estamos a ficar entradotes!) lembrei-me de um outro jogo mas não me lembro nem quando comecei a brincar a ele nem quando o larguei.
Nós chamavamos-lhe o Jogo dos Saquinhos mas era, na realidade a adaptação de um jogo tradicional (se calhar até de origem portuguesa) chamado o Jogo da 5 Pedrinhas.
Em vez de pedras nós jogávamos com uns saquinhos pequenitos, de pano. Umas almofadinhas quadradas ou rectangulares que tinham, no máximo uns 4 cm de lado e que nós enchíamos com arroz ou com areia da praia. Muitas vezes todas igualinhas, muitas vezes feitas com restos de tecido, todas diferentes umas das outras conforme a criatividade das nossas mães.
O jogo consistia em mandar ao ar os saquinhos e ficar com um em cima das costas da mão. Nova ida ao ar e o saquito ficava na conchinha da mão. Depois, de cada vez que atiramos aquele saquinho ao ar, temos de ir apanhando os outros. Primeiro um-a-um, depois dois-a-dois, depois um primeiro e três de seguida e depois todos. Após estas apanhadelas vinham as 'construções'. Esta secção já não fazia parte do jogo tradicional mas eu sempre joguei assim e não sei quem a inventou e quando. Começávamos por pôr a mão 'livre' apoiada em cima duma superfície, assim como se estivessemos a fingir que cortamos qualquer coisa com um machado. Àquela 'figura' chamávamos o muro. Toca novamente de passar os saquitos de um lado da mão para o outro, enquanto um dos sacos é jogado ao ar. Depois dois-a-dois, depois 3 e 1, depois todos. Podiam ir dando-se uns toques para os juntar, sempre mandando um ao ar. Não se podia era deixar cair esse.
A seguir ao muro, vinha a ponte (dedo indicador e polegar apoiados na superfície para fazer um arco) e toca de passar os saquitos lá por baixo.
Depois vinha a prateleira. Mão livre, com a palma virada para cima, encostada à barriga ou ao peito (que na altura não era nenhum) e toca de conseguir pôr os saquinhos 'cá em cima' enquanto o 5º ia ao ar.
Em matéria de construções, a minha memória fica-se por aqui... Quando perdíamos (não apanhando o saquito que 'ia ao ar') mudava-se de jogadora e voltava-se ao princípio.
O que dá falar nestas coisas é que os meus miúdos, curiosos como são, querem experimentar tudo e agora, além do jogar ao Pé de Galo com o M. tenho de fazer 5 saquinhos de pano para ensinar a M.
Já tenho os tecidos. Fiquei com uns restinhos que umas alunas deitaram fora (obrigada Joana! lol) depois de terem acabado um Módulo de Expressão Plástica em que usaram desperdícios. Agora tenho de deitar mãos ao trabalho. Os tecidos são muito engraçados por serem todos diferentes. Parecem tecidos para fazer camisas. Só espero que a máquina de costura ainda funcione. Arroz ou areia da praia para os encher também não escasseia por aqui por isso só falta mesmo deitar mãos ao trabalho!
Quando estiverem prontinhos eu mostro os resultados!
:)
Foto de Ferreira da Cunha (1901-1970), no Arquivo Fotográfico da C.M.L.
Agora imagine-se, com a febre de segurança que por aí vai, o que seria pormos os miúdos de hoje a brincar com pregos, cordéis que se enrolam à volta das mãos, elásticos ao pescoço e pedras!
Eu devo ser uma Mãe muito má!
Que pena! Tantas horas de divertimento que se perderam...