domingo, 12 de julho de 2009

O último mês...


O último mês de trabalho lectivo dos professores contratados é difícil.
O tempo é de incerteza. Certezas mesmo só o fim do contrato e do relacionamento mais próximo com quem, durante 10 meses convivemos todos os dias. Colegas e alunos.
Muitas vezes sentimos que quem não é professor não alcança até que ponto esta situação é angustiante. Já se imaginaram a mudar de emprego TODOS os anos?
Então e sentir o Agosto a chegar e nunca saber se terão emprego em Setembro? E ainda andar nessa situação aos 40? E ao fim de 10? Bom, não é? Todos os anos...
E, se e quando o emprego chega, terem de se adaptarem a novos horários, percursos diferentes, colegas diferentes, 200 miúdos diferentes, procedimentos diferentes? Não é fácil, garanto-vos. Passamos por este esforço de adaptação e, quando as coisas começam finalmente a entrar 'no eixo' é hora de despedidas.
Dizia-me o T. do 7ºA (uma das turmas mais difíceis da escola): -"Oh stôra, o ano lectivo devia ter 4 períodos porque agora que a gente se começa a entender com os professores, acaba-se!"

Habitualmente eu consigo estabelecer um relacionamento muito bom com as minhas turmas, dos mais pequeninos ao secundário. As disciplinas que lecciono também se prestam a isso. Obviamente que as relações com os alunos são diferentes pois eles também procuram coisas diferentes. Este ano, para os mais pequeninos (tive 5ºs anos) fui quase uma mãe substituta que manda lavar as mãos, ajeitar os óculos e vestir o casaco no fim da aulas no inverno ou pôr o boné no Verão. Com os 7ºs fui excessivamente atenta e preocupada pois sei que é uma idade em que se agarram ou se perdem para sempre. Com as minhas turmas do secundário posso falar de tudo e ajudá-las no que estiver ao meu alcance.

Despedir-me de todos eles é difícil, muito difícil. Se calhar tão difícil como apercebermo-nos que os nossos filhos crescem e um dia vão sair de casa. Tenho sempre a sensação de que poderia ter feito mais, ter feito melhor, abordar alguma coisa sob outro aspecto, ajudá-los de alguma outra maneira, ajudá-los a descobrirem por eles mais qualquer coisa, ter-me apercebido de algum pormenor que deixei escapar e, ao mesmo tempo, fazê-los entender que não somos super-homens e que precisamos uns dos outros. Sinto sempre que não fiz o suficiente...
Essa tarefa também não é facilitada quando eles, na sua inocência e a todo o instante, me perguntam num jeito quase afirmativo como se de outro modo não pudesse ser: -Oh stôra, vai ficar com a nossa turma p'ó ano, não vai?!
Eles querem acreditar que sim e nem 'fazem contas' que seja de outra maneira. Eu também quero acreditar que sim, que isso será possível de acontecer. Nestas incertezas nos despedimos, separando-nos com o coração menos apertado.
Até Setembro, queridos! Aproveitem as férias.

4 Sementes:

Alex 12:25 da manhã  

Hummm... entendo-te. Sabes que não consigo perceber porque funciona assim o ensino público, porque tem que haver todos os anos esta "dança de cadeiras". Não sei quem ganha com isto. Sei que os alunos não são seguramente, e pelos vistos vocês também não. Se um hospital/ministério/cãmara municipal têm o seu quadro de funcionários permanente (e ninguém entenderia o contrário) porque hão-de as escolas viver assim? Uma escola não precisa sempre dos mesmos professores? As variações de alunos serão de tal ordem que não permitam ter um quadro permanente devidamente dimensionado? Sinceramente não percebo.

Anónimo 10:58 da manhã  

Sinto exactamente a mesma coisa, chega a ser frustante...
MAs temos de ter força e esperar...

Natália (estreladasluas)

bell 11:01 da tarde  

Sabes que durante um tempo apreciei esse aspecto da nossa profissão? A mudança, o poder renovar, o reinventar, a fuga às rotinas,... Ultimamente, começou a cansar. Este ano será de mudança. Enfim, resta ter paciência esperar.

Cenoura 10:47 da tarde  

Bell, eu também não sou avessa à mudança e até gosto de ir variando de ares. As realidades são sempre tão diferentes de escola para escola e há escolas por onde passei nestes últimos 10 anos em que eu não gostava mesmo nada de lá ficar efectiva. Acabamos por perceber que os cargos, os projectos, etc, vão sempre para os mesmos... por isso gosto de mudar. Ir mudando funciona como se fosse sempre uma escola a estrear para mim, pelo menos naquele primeiro ano em que ando a perceber quem é quem e aqueles compadrios me passam todos ao lado. Só que há anos em que é mais difícil 'deixar ir' os miúdos...
O que me custa mesmo é só o nunca saber se terei emprego ou não no ano seguinte.
Se me dissessem que eu tinha SEMPRE emprego num raio de, vá, 20km em volta da minha zona de residência eu já não me importava de mudar de escola todos os anos.
:)

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