segunda-feira, 31 de março de 2008

Era um atestado médico para Portugal, se faz favor...

Imaginem que são professores.
Imaginem que é dia de exame do 12º ano e foram convocados para fazer uma vigilância.
Agora continuem a imaginar...
O despertador avariou durante a noite (faltou a luz, por exemplo). Ou ficaram presos elevador. Ou o seu carro não tinha bateria. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o pequeno-almoço em cima da sua imaculada roupinha. Ou, já a caminho da escola, a GNR mandou-o parar só para verificar se tem o seguro e a inspecção em dia e atrasou-o.
Teve, portanto, de faltar à vigilância (mesmo que só fosse um atraso de 5 minutos é o equivalente a uma falta, na vida de um professor...)
O exame será realizado na mesma e você há-de ser substituído por algum professor suplente (convocado para o efeito) mas, VOCÊ tem falta, claro.
Ora esta coisa de um professor ficar com uma falta injustificada, ao contrário do que muita gente pensa, é complicada. TEM de justificá-la. A questão agora é: COMO justificá-la?
Passemos então à parte divertida...
A única justificação aceite, NESTA profissão, para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada e malcheirosa, é um atestado médico.
Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma "doença" poderá justificar a sua ausência na sala do exame e, portanto, você vai ao médico.
A partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante...
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo (assim tipo com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias).
A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana (os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso dos programas televisivos de faca e alguidar)...

O professor sabe que não está doente.
O médico sabe que você não está doente.
O presidente do conselho executivo da sua escola sabe que você não está doente.
O director regional sabe que você não está doente.
O 'Ministério da Educação' sabe que você não está doente.
O próprio legislador, que manda um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.


Ora, num país em que isto acontece, em que isto TEM de acontecer só pode estar doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente...
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica (até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões) o que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade. E lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia o outro: "uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade". Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o “ET”, que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção confunde-se com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia a começar pela política já que os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados.

Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida. Se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, há quem leia revistas sociais e "fique derretido" ao ver casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, todos sabemos que aquilo é mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses.
Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros.
Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias ao Brasil. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.
Está visto! Claro que não é um professor que falta a uma vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.
É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio!

E pouco falta...

(adaptado de um texto escrito por um professor)

quinta-feira, 20 de março de 2008

*suspiro*

A Deco tem vindo a promoveu várias acções de alerta sobre os perigos da publicidade de alguns alimentos considerados (e com toda a razão) sem interesse alimentar nenhum cujo publico-alvo são as crianças, devido ao monstro da obesidade que se avizinha...
A par de informar sobre estes produtos, a Deco pretende que a publicidade que lhes é feita seja muito mais restrita ou até inexistente nos horários em que as crianças vêm televisão. Como justificação adiantou (aos microfones da SIC) que: "As crianças pedem e não é facil aos pais dizerem que não."
Isto é muito engraçado... ou seja, para resolver este problema de exercício de autoridade (ou mais propriamente de falta dele) a Deco acha que o melhor é controlar a publicidade cujo target são as crianças.
A este andamento eu acho é que não tarda vamos ver a Deco a tentar restringir a publicidade aos brinquedos, à roupas, aos livros, aos parques infantis ou ao Jardim Zoológico pois nada impedirá as crianças (peritas na matéria, diga-se) de transferirem as suas birras dos "Bollycaos" para qualquer outro objecto.
Serão mesmo as leis e as associações como a Deco que podem dizer não pelos pais?!
Estará mesmo o problema nos anúncios ou nas prateleiras dos hipermercados?
O será que um dos problemas de hoje em dia, relativamente à alimentação ou a qualquer outra coisa, está no facto de os pais não conseguirem dizer NÃO?!

sexta-feira, 14 de março de 2008

I'm so happy!

É Sexta-feira.
Tenho os 1104 trabalhos corrigidos.
Tenho as 128 notas das 5 turmas que tenho, entregues.
Já tenho as notas todas da minha direcção de turma lançadas.
Tenho o balanço do 'meu' Projecto Curricular de turma feito.
Tenho o balanço dos 9 Planos de Recuperação, da minha direcção de turma, feito.
Tenho o balanço do único Plano de Acompanhamento, da minha direcção de turma, feito.
Tenho o balanço da pauta feito.
Tenho o rosto da acta imprimido.
Só falta fazer o rascunho da 'minha' acta.
E é 6ª feira.
Ah, já tinha dito?!
É fim-de-semana!!!

quarta-feira, 12 de março de 2008

"Os professores e educadores são um grupo decisivo para o futuro do País, mais decisivo do que os políticos, técnicos e financeiros"
D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa
(declarações à Rádio Renascença, 11 de Março de 2008)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Pois, pois, sim, sim...

"O que me convence não é a força dos números, é a força da razão",
José Sócrates,
(declarações a 9 de Março após a manifestação de professores)

Sim, Senhor Primeiro-ministro, 10.000 pessoas em 143.000 estão erradas, claro.
Aliás "esses 70% de professores" não devem saber o que andam a fazer...
E sim, sim, é mesmo a força dos números que não o convence... Ou será o tipo de números que não lhe interessam?

domingo, 9 de março de 2008

Sim, claro que estive lá...

http://www.flickr.com/photos/39199063@N00/sets/72157604097948243/



quinta-feira, 6 de março de 2008

"Numaros"

1000 euros
é quanto ganha por jogo um árbitro que apita na primeira divisão.
(in Jornal Público, 6 de Março de 2008)
Acho que vou arranjar uma ocupação nova para os fins-de-semana...

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