Hoje é dia da mãe e eu não vou estar com a minha. Ela tem enxaquecas fortíssimas há anos. Nessas alturas tem de ficar no escuro, não come, não fala, vomita imenso. Duram um a dois dias e são completamente incapacitantes. Os médicos despacharam o assunto com um diagnóstico de Síndrome de Ménière, um desiquilíbrio no ouvido interno. Eu estou farta de procurar saber sobre o assunto e não creio que seja isso porque alguns dos sintomas principais e indiciadores de tal patologia nunca se verificam: Ela não fica surda, não tem vertigens súbitas, não ouve ruídos nem zumbidos, nunca sentiu os ouvidos tapados nem pressão nos mesmos. Simplesmente acorda nesse estado, com uma enxaqueca enorme, inexplicável, tem intolerância à luz e vómitos todo o dia. Há dois anos que não lhe acontecia e, hoje, acordou assim.
Nem o telefone pode ouvir e o nosso diálogo resumiu-se a:
-Filha, outra vez...
-Não te preocupes, mãe, trata de ti.
-Tenho pena...
-Não te rales, jantamos noutro dia. Tira a chave da porta. Adoro-te. As melhoras.
Não precisamos de mais. Nestas alturas ela não quer ninguém por perto e eu, lá, não faço nada.
A minha mãe é um doce. Amo-a. Ela nem conhece este meu canto mas, como não vou poder estar com ela, não me apeteceu deixar de dizer isto.